segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Ovo é Mall.


Bem sabemos que o Ovo Mole é imagem de marca de uma das cidades mais bonitas do mundo: Aveiro.
Aconteceu, por outro lado, por motivos estratégicos, ter sido esse o meu local de nascimento, enquanto à mesma hora, do mesmo dia, em Londres, na Westminster Abbey, se casava Príncipe Carlos e a malograda Princesa Diana.
Estranho, seria encontrar nas arábias um esgar sequer de doçaria conventual da provincianamente (à la portugaise...) denominada Veneza de Portugal.

Poderia ter, eventualmente, tropeçado num mais global arroz doce, num internacional leite de creme, numa cosmopolita nata do céu, num inter-continental doce da casa, numa trans-atlântica fruta da época ou, se quiser ser mais arrojado, numa luso-italiana fatia de Vienneta, que nunca poderá faltar num qualquer snack-bar português que se preze.

Mas não.
Dei de caras com o meu mui estimado e conterrâneo Ovo Mole (deve pronunciar-se Obo Molle, em Abeirense da Bairrádá).

O processo de expansão do Ovo Mole nestas paragens, tem-me feito tirar algumas notas acerca do volumoso aproveitamento que um produto local/nacional pode ter "fora de portas".
Reúno então, uma série de informações ultra-secretas e oficiosas, para que a vereação do Eng. Élio Maia e a Câmara Municipal de Aveiro possam perceber como as coisas se devem processar.
Chega de Bugas, de passeios de Moliceiro na Ria, de ciclovias, salinas, Universidades urbanisticamente perfeitas, de eco-museus, etc, etc, etc.

Meus caros aveirenses: isso já deu. Démodé. Passado. Esquecer. Caput!

Todas as nossas energias no: Ovo Mole.

E estes senhores, arautos do pioneirismo e da experimentação, não fizeram por menos e apresentam-nos uma gama infindável de variantes deste produto que será, concerteza, um case study, nas áreas da restauração e hotelaria mas também nas escolas de marketing em Portugal.

O Ovo Mole é (para se ter uma pequena ideia da popularidade do fenómeno) também usado na oralidade, como expressão dita e ouvida quotidianamente por qualquer indivíduo moderno que se encontre perdido, desencontrado, em lazer, em trabalho, deprimido, alegre, soturno ou a fazer o pino.

As margens de lucro, que vão largamente compensando o investimento na produção desta pérola aveirense das arábias, são inimagináveis e deixam adivinhar um futuro ainda mais risonho.
Os Ovos Moles são, de facto, irresistíveis e viciantes.
E aqui há dos maiores já alguma vês fabricados: assim mesmo, à escala do Guiness, da Avenida da Boavista ou daquele golo do Madjer.

Não há um dia em que o Sheik não peça um nOvo.
Não há um dia em que um não começa a ser produzido.
Apenas um reparo: o processo de internacionalização do produto tem uma matiz desviante.
Dizem eles que, para facilitar a sua mediatização e porque o Inglês é a Língua franca, se deverá corrigir linguisticamente para: "Ovo Mall" (sim...a mesma história do Allgarve!).
Esta nova evolução para "Ovo Mall" funda-se também, justamente, na semelhança com aquela supra citada pronunciação genuinamente popular: do Abeirense da Bairrádá, Obo Molle.

Ver para crer: o Ovo Mall está em todo o lado e tem já nomes próprios.

"Where is Marina (Ovo) Mall?"
"Oh...look! The biggest (Ovo) Mall in the World!"
"It´s easy... You should cross till The Emirates (Ovo) Mall."

Caros concidadãos aveirenses, posto isto, na próxima Assembleia Municipal, em massa, gritar:

Abra os olhos, Eng. Élio!
Por onde tem andado?
Aveiro precisa disto!!!

P.S.: Citando José Hermano Saraiva em mais um épico final d´Os Horizontes da Memória no Dubai: "... e é uma pena que uma Civilização como esta, a Árabe, que ensinou o mundo a contar, a cultivar o Algarve, a dançar o ventre, a fundar o Farense e alguns clubes de Lisboa, tenha agora, como base cultural o objecto que é, ao mesmo tempo, a melhor das metáforas: é parido rapidamente, por um dos animais menos dotados do mundo e que, pousado e sendo mall, nunca se aguenta em pé."

É o Ovo Mall.
Anymall.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Ana Maria e aquela semana

Tinha-lhe dito, ainda no Porto, antes de emigrar, que seria sempre um risco ela partir para solo arenoso assim. Estando eu "lá" apenas há duas semanas.

Os anfitriões dignos dessa designação têm que ser cicerones.
Os cicerones amadores (os que amam o que fazem e todos aqueles que não laboram em agências de turismo) têm que se preparar.
Eu deixei o pré-aviso.

A Ana Maria Barros chega-se-me numa Sexta, com quase 30 anos.
Ainda "vintona" mas nascitura dos 30, quis marcar no Dubai o colapso do "2"e o parto do "3".
E acho que fez muito bem.
E ela também.

A semana de trabalho nos Emirados tem início no Domingo e término na Quinta-feira.
Ainda me custa (como hoje) encaixar a Quinta como o início de fim-de-semana.
E como me concentrar aos Domingos à tarde no trabalho, quando se estava habituado a ver a bola à mesma hora?
Este foi um dos maiores dramas que encontrei.

O Domingo, para mim, foi sempre o Dia Santo e a Quinta-feira, a penúltima estação do calvário com vista à redenção, que é o fim-de-semana.
Adiante.

1- A Ana Maria, como é todaprafrentex, deixou-me mais tranquilo porque o tempo que teria que passar inevitavelmente no trabalho seria preenchido com um largo saco de actividades que ela iria descortinar.


E assim foi.

Por outro lado, ironia das ironias, seria a Ana Maria a recomendar-me o que visitar no Dubai.
Como acertadamente temi, o anfitrião-nada-cicerone, seria literalmente comido pela sabedoria adquirida do convidado.
E bem jeito me deu porque agora sou mais cicerone para receber, por exemplo, o Tiago que virá em Abril.

2- Fada-do-lar

A Ana Maria passa muito bem a ferro, é prendada na cozinha e nas limpezas.
No fundo, uma mulher como já não se vê muitas, que preferem comprar tudo feito.

Em casa de homens pró-mediterrânicos/latinos, aquelas qualidades assumem uma importância elevada ao cubo. São cordões de tradição milenar que, muito dificilmente, abandonarão os homens portugueses até que este planeta desapareça.

As minhas aulas práticas (já que as teóricas ainda estão por doutrinar) de ironing, em Aveiro, com a também milenar minha mãe, mostraram-se muito proveitosas.
Mas as camisas, essas, exigem muita prática e a Ana Maria esteve igual a si própria, mostrando quem é que manda na tábua de engomar.

Foi uma semana pró-militar no que diz respeito à organização dos nossos haveres.
Como bem diz o ex-combatente ao imberbe jovem: "...não te fazia nada mal uma ida à tropa!"
E tem razão.


Uma casa portuguesa (e os dedos do pé direito pedicurado da Ana Maria)

O segundo dos motivos (e talvez o maior) que contribuiu para que esta missão às arábias, por parte da Ana Maria, tenha sido um sucesso, tem dois nomes próprios: Ciríaco e Isabel.Este simpatiquíssimo casal de portugueses introduziu-nos à realidade das logísticas do mundo árabe...

Passo a descrever.

As nossas duas primeiras semanas foram verdadeiramente caóticas no que respeita ao firmamento de um contrato de arrendamento que tem que ser (imagine-se!) pago, de início, pela totalidade do tempo de estadia, nesta caso seis meses. A mesma agência imobiliária que nos apresentou o apartamento "no qual" (plágio a discurso de Cristiano Ronaldo) residimos, mostrou-nos, para terem uma ideia, um outro situado na Marina mas sem contrato: "There is no problem. I think that the tenent is away in UK. He won´ t return before August. So you´ll give me the money and that´s it. Ok?"

Claro pa! Toma lá então o dinheiro para este espectacular apartamento já arrendado!
Se estivermos a dormir e "ele" entrar por aí, bebemos todos umas cervejas e falamos da saída (já tardia) de Scolari do Chelsea...
O Ciríaco disse-nos que isto seria só o início de uma grande aventura comunicativa.
Ter-me-ei que deter em detalhe, num futuro próximo, nesta matéria que dará pano para uma grande manga.

Concordamos imediatamente que ser europeu (não necessariamente ocidental), é algo de insubstituível no que diz respeito a algumas regras estruturais de vivência em sociedade.

Quero terminar, por sublinhar e agradecer publicamente toda a ajuda neste nosso settling, por parte dos amorosos Ciríaco e Isabel (e da "outra Isabel" que me aturou numa das torres da JBR durante a semana e meia que marcou a dura batalha negocial).
E pela companhia da Isabel (sénior) em toda a estadia da Dra. Ana Maria Barros (que sorte hã, ó Maria!).

Em grande parte das nossas interessantíssimas conversas ao jantar no seu belíssimo apartamento da Jumeirah Beach Residence, acabamos sempre por reiterar que o português que está "lá fora" é, sem dúvida, muito mais português que os outros.

Porque, habitualmente, o portuguesito (o uso dos diminutivos atesta o que digo) é pessimista, miserabilista, faz-se valer recorrentemente de exemplos estrangeiros e é de baixa auto-estima (enorme excepção feita à única classe de portugueses novos-ricos: os futebolistas ou futeboleiros, se falarem ainda menos bem a Língua de Camões).

Tem que ser assim, como Deus quer. Ir andando devagarinho. Saudínha é o mais importante...que quando El Rei Dom Sebastião regressar, tudo será resolvido.

Estando distante, física e culturalmente, temos tempo e espaço para comparar:

-reflectir e reprovar os defeitos de Portugal.
-confirmar e elogiar as virtudes de Portugal.
-reflectir e reprovar os defeitos da cultura alheia.
-confirmar e elogiar as virtudes da cultura alheia.

- Temos ainda saudade(s).

Pela comparação, pela distância, pela abstinência do conforto adquirido, tornamo-nos, se quisermos ser honestos, muito mais razoáveis, flexíveis, tolerantes, civilizados e, mais importante que tudo, mais evoluídos.

Por mais que saibamos que os emigrantes tradicionais dos idos sessentas "nas Franças e Suiças"
encarnavam uma série de personagens, regra geral, pouco agradáveis como cartão de visita nacional (mas que grande acto de coragem, ao mesmo tempo, partir sem falar a Língua!), apercebemo-nos cada vez mais que os "novos" emigrantes portugueses já são de outras águas.

O que me deixou com um brilhozinho nos olhos foi perceber que aquele inexcedível casal da geração dos meus pais, se enquadra claramente naquela segunda categoria de emigrantes: lucidez, abertura de espírito, aventura e partilha descomprometida.

Tudo aquilo que é saudavelmente muito pouco português.

Aguardo os meus sessentas desta forma e espero ser capaz de conseguir.

Um grande bem-haja, Ciríaco e Isabel!

Tenho dito.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Desert Sessions


Foi a primeira vez que adquiri um pack turístico.

Para além de ser pouco dado a packs (à excepção dos digipacks que transformam qualquer prateleira) nunca tinha recebido algum ordenado.

Na impossibilidade de cumprir a promessa que fiz a mim próprio com alguns dias de vida (de utilizar o meu primeiro ordenado para me fazer sócio do Futebol Clube do Porto) investi a maquia numa viagem às dunas.
O programa das festividades incluia, inicialmente, um trajecto de cerca de 30km até ao deserto.


Se pensarmos que o Dubai é deserto (assim como todos os Emirados Árabes Unidos e Península Arábica) não temos mais nada que...deserto.

Foi a melhor coisinha que fiz nestas três semanas.

As viagens, e mais que isso, as estadias mais (ou menos) prolongadas num local que não o "nosso", têm que envolver exclusividade.

E o deserto é exclusivo para um português. Não vale a pena estarmos com a sempre tão oportuna balela de dizer aos escandinavos que se passeiam em Lisboa ou no Porto que o Distrito de Beja é "tipo" deserto e que Portugal, apesar de pequenino, dispõe de uma panóplia infindável de microclimas, habitats e paisagens.
Neste caso, não resulta.


Nem para um minhoto Portugal pode ser deserto.
Portugal é tudo menos deserto e o Distrito de Beja, quanto muito, será desértico e seguramente desertificado.
O deserto não é desértico nem desertificado.
É deserto.

É deslumbrante pela austeridade, pela simplicidade, pela imensidão e muito, pela ausência de água.
Deixem-me ali sozinho , a 30km de uma das cidades com mais tecnologia no mundo. Pediria apenas uma esferográfica e um pequeno rádio.
Escreveria madrugadoramente As Minhas Memórias ao som de A Thousand Leaves do Nick Drake.

Eu e a Ana Maria (que fez o grato favor de me acompanhar e que vai ser alvo do próximo post) passeamos de jeep. Passear é o eufemismo que encontro já que o que aconteceu foi um verdadeiro show de roller cost dunar. Seguimos quase à risca o conselho de não ingerir qualquer alimento. E fez todo o sentido.

Para o fim, um banquete (já de noite) com os clichés de quem procura estes packs-oásis: comida condimentada à moda do Médio Oriente (já comi qualquer coisa muito semelhante na Cantina d´os Grelhados), pintura de mãos/pés para a menina, traje árabe para foto hi5, dança do ventre e, cereja em cima do bolo, a viagem de 2 minutos de dromedário. Escusado será dizer que fomos bombardeados com a informação que o animal-cargueiro seria pois, o camelo.

Pelo meio, o nosso cicerone indiano a quem, carinhosamente, apelidamos de Buba (alguém se lembra do hat trick ao Sporting deste já grande clássico do futebol português?) que, com o seu Inglês macarrónico nos ia explicando que todos os dias empackota turistas de todo o mundo e os leva a sair do Dubai.

Dizia-nos ele: "Is he really portuguese, Vashco da Ghama?". Ao mesmo tempo, assegurava-nos saber que Goa foi portuguesa mas que agora é uma promenade de globetrotters e de nostálgicos hippies em busca da juventude perdida.

É o tal problema dos packs: não há muito mais para além do resort.

Mas aqui não há nada a fazer.

Até conhecer a beduína que acampe comigo e me diga, à luz da lua, que quer conhecer Sobral de Monte Agraço.

O deserto é bonito.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

It requires people to make the dream a reality

3-2-1: outerspace!
Real estate: Negotiating, to buy Burj Dubai...
Landlord: Sheik Al Maktoum

Dubai´s Culture and identity.

Torço o nariz logo que aterro.
Tudo menos que normal quando, após 3 dias noutra área do globo, se fica com a sensação que já se viu tudo. Neste caso, que se viu quase nada...
Animado pela esperança de estar redondamente equivocado e porque ainda distam cerca de seis meses para regressar à Praia da Barra e ao Verão português, comprometo-me a desistir daquele palpite.

Se o Dubai praticamente não existia quando Walt Disney decidiu escrever a frase que brilhantemente escolhi para título parangonal deste blog, facilmente se constatará que o rei da animação tinha, nestas paragens, inspiração suficiente para redesenhar toda a génese do movimento animado.
E é de animação que se trata.

Qualquer escala de riqueza, em qualquer ponto do globo, é pouco comparável a esta.
Esbocei uma escala meramente ficcional (tal qual a realidade dubaiana).
Nada de aproximações xenófobas e/ou julgamentos pró-qualquer-coisa.
A saber (por ordem decrescente):

1- Sheik
2- Os (desenhos) animados pelo dinheiro que é comprado em petróleo e que, normalmente, são familiares e/ou afilhados do Sheik.
3- Os expatriados (quais nómadas de "casa com piscina" às costas) que estão, claramente, sempre em trânsito movidos pelo dinheiro que auferem.
4- Os estagiários da AICEP Dubai (mais expatriados ainda).
Embolsam um ordenado jeitoso se fosse o primeiro ordenado de uma carreira profícua em Portugal. Mas pagam por um T1 partilhado por 3 pessoas, mensalmente, por pessoa: 700 euros (preço de amigo e regateado quase até à morte).
5- Rameiras, sucedâneos e shemales. Leste europeu, Malásia e Filipinas, respectivamente.
6- Indianos, filipinos e paquistaneses. Verdadeiros playmobis da construção civil, restauração e hotelaria.
7- Não há cães vadios (caso existissem...teria que repensar algumas das posições da escala).

É fácil ser-se orgulhoso quando se tem petróleo na eira...
Não há carros fracos. Ou melhor, a maioria dos carros é mesmo luxuosa. Nem ponta de exagero nisto.E conduzir com 7 faixas de cada lado e skyscrapers inacreditáveis de um lado e do outro é experiência de cinema.
Já passamos pelo Sheik que enverga orgulhosamente a matrícula nº 1 do Emirado.
Indianos, filipinos e paquistaneses são aos milhares e tratam-nos, a nós europeus, por sir e boss.
Temos aqui connosco um deles: o Madu, office-boy. É uma jóia de moço.
Aprendeu a tirar cafés com os portugueses.
Só por isso já posso partir tranquilo.
Esta reverência asiática pró-europeia, para além de falsa, faz-me comichão.
Mas normalmente os europeus gostam. Mesmo os latinos. E os latinos serão sempre, de entre os europeus, os mais bonitos (mas nunca os mais vaidosos).

Os árabes endinheirados são a vergonha do resto do mundo islâmico.
Dubai tem putas e muitas.
Aqui ao lado na Mesopotâmia ,que nos deu quase tudo, e teima agora em tira(niza)r um pouco, não devem achar muita piada a esta vidinha de pseudo-árabes bem vestidinhos.
Mas que muito pouco me identifico com esta fábula, lá isso é verdade...
Prefiro a realidade de uma boa francesinha no Porto ou um ovo mole na Peixinho. Para não falar daquele bom Ramona de Fiats Puntos à porta.
Bem, depois deste pequeno enquadramento, vou tratar de continuar a enviar legislação árabe mais-ou-menos traduzida para a Soares da Costa e ver se caço um emprego bem remunerado para investir na minha discografia pessoal, muito depauperada nos últimos meses.
Depois disso, quero regressar outra vez, já subido na escala, pelo menos como expatriado-profissional e nómada mas já com os discos que comprei em terceira mão no Porto.
Quiçá o futuro me leve directamente ao Sheik. E o Beira-Mar ascenda, então, à Liga Sagres e por lá fique, construindo uma história recheada de Champions League´s e vitórias ao Benfica.
Salamalecum!