quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Ana Maria e aquela semana

Tinha-lhe dito, ainda no Porto, antes de emigrar, que seria sempre um risco ela partir para solo arenoso assim. Estando eu "lá" apenas há duas semanas.

Os anfitriões dignos dessa designação têm que ser cicerones.
Os cicerones amadores (os que amam o que fazem e todos aqueles que não laboram em agências de turismo) têm que se preparar.
Eu deixei o pré-aviso.

A Ana Maria Barros chega-se-me numa Sexta, com quase 30 anos.
Ainda "vintona" mas nascitura dos 30, quis marcar no Dubai o colapso do "2"e o parto do "3".
E acho que fez muito bem.
E ela também.

A semana de trabalho nos Emirados tem início no Domingo e término na Quinta-feira.
Ainda me custa (como hoje) encaixar a Quinta como o início de fim-de-semana.
E como me concentrar aos Domingos à tarde no trabalho, quando se estava habituado a ver a bola à mesma hora?
Este foi um dos maiores dramas que encontrei.

O Domingo, para mim, foi sempre o Dia Santo e a Quinta-feira, a penúltima estação do calvário com vista à redenção, que é o fim-de-semana.
Adiante.

1- A Ana Maria, como é todaprafrentex, deixou-me mais tranquilo porque o tempo que teria que passar inevitavelmente no trabalho seria preenchido com um largo saco de actividades que ela iria descortinar.


E assim foi.

Por outro lado, ironia das ironias, seria a Ana Maria a recomendar-me o que visitar no Dubai.
Como acertadamente temi, o anfitrião-nada-cicerone, seria literalmente comido pela sabedoria adquirida do convidado.
E bem jeito me deu porque agora sou mais cicerone para receber, por exemplo, o Tiago que virá em Abril.

2- Fada-do-lar

A Ana Maria passa muito bem a ferro, é prendada na cozinha e nas limpezas.
No fundo, uma mulher como já não se vê muitas, que preferem comprar tudo feito.

Em casa de homens pró-mediterrânicos/latinos, aquelas qualidades assumem uma importância elevada ao cubo. São cordões de tradição milenar que, muito dificilmente, abandonarão os homens portugueses até que este planeta desapareça.

As minhas aulas práticas (já que as teóricas ainda estão por doutrinar) de ironing, em Aveiro, com a também milenar minha mãe, mostraram-se muito proveitosas.
Mas as camisas, essas, exigem muita prática e a Ana Maria esteve igual a si própria, mostrando quem é que manda na tábua de engomar.

Foi uma semana pró-militar no que diz respeito à organização dos nossos haveres.
Como bem diz o ex-combatente ao imberbe jovem: "...não te fazia nada mal uma ida à tropa!"
E tem razão.


Uma casa portuguesa (e os dedos do pé direito pedicurado da Ana Maria)

O segundo dos motivos (e talvez o maior) que contribuiu para que esta missão às arábias, por parte da Ana Maria, tenha sido um sucesso, tem dois nomes próprios: Ciríaco e Isabel.Este simpatiquíssimo casal de portugueses introduziu-nos à realidade das logísticas do mundo árabe...

Passo a descrever.

As nossas duas primeiras semanas foram verdadeiramente caóticas no que respeita ao firmamento de um contrato de arrendamento que tem que ser (imagine-se!) pago, de início, pela totalidade do tempo de estadia, nesta caso seis meses. A mesma agência imobiliária que nos apresentou o apartamento "no qual" (plágio a discurso de Cristiano Ronaldo) residimos, mostrou-nos, para terem uma ideia, um outro situado na Marina mas sem contrato: "There is no problem. I think that the tenent is away in UK. He won´ t return before August. So you´ll give me the money and that´s it. Ok?"

Claro pa! Toma lá então o dinheiro para este espectacular apartamento já arrendado!
Se estivermos a dormir e "ele" entrar por aí, bebemos todos umas cervejas e falamos da saída (já tardia) de Scolari do Chelsea...
O Ciríaco disse-nos que isto seria só o início de uma grande aventura comunicativa.
Ter-me-ei que deter em detalhe, num futuro próximo, nesta matéria que dará pano para uma grande manga.

Concordamos imediatamente que ser europeu (não necessariamente ocidental), é algo de insubstituível no que diz respeito a algumas regras estruturais de vivência em sociedade.

Quero terminar, por sublinhar e agradecer publicamente toda a ajuda neste nosso settling, por parte dos amorosos Ciríaco e Isabel (e da "outra Isabel" que me aturou numa das torres da JBR durante a semana e meia que marcou a dura batalha negocial).
E pela companhia da Isabel (sénior) em toda a estadia da Dra. Ana Maria Barros (que sorte hã, ó Maria!).

Em grande parte das nossas interessantíssimas conversas ao jantar no seu belíssimo apartamento da Jumeirah Beach Residence, acabamos sempre por reiterar que o português que está "lá fora" é, sem dúvida, muito mais português que os outros.

Porque, habitualmente, o portuguesito (o uso dos diminutivos atesta o que digo) é pessimista, miserabilista, faz-se valer recorrentemente de exemplos estrangeiros e é de baixa auto-estima (enorme excepção feita à única classe de portugueses novos-ricos: os futebolistas ou futeboleiros, se falarem ainda menos bem a Língua de Camões).

Tem que ser assim, como Deus quer. Ir andando devagarinho. Saudínha é o mais importante...que quando El Rei Dom Sebastião regressar, tudo será resolvido.

Estando distante, física e culturalmente, temos tempo e espaço para comparar:

-reflectir e reprovar os defeitos de Portugal.
-confirmar e elogiar as virtudes de Portugal.
-reflectir e reprovar os defeitos da cultura alheia.
-confirmar e elogiar as virtudes da cultura alheia.

- Temos ainda saudade(s).

Pela comparação, pela distância, pela abstinência do conforto adquirido, tornamo-nos, se quisermos ser honestos, muito mais razoáveis, flexíveis, tolerantes, civilizados e, mais importante que tudo, mais evoluídos.

Por mais que saibamos que os emigrantes tradicionais dos idos sessentas "nas Franças e Suiças"
encarnavam uma série de personagens, regra geral, pouco agradáveis como cartão de visita nacional (mas que grande acto de coragem, ao mesmo tempo, partir sem falar a Língua!), apercebemo-nos cada vez mais que os "novos" emigrantes portugueses já são de outras águas.

O que me deixou com um brilhozinho nos olhos foi perceber que aquele inexcedível casal da geração dos meus pais, se enquadra claramente naquela segunda categoria de emigrantes: lucidez, abertura de espírito, aventura e partilha descomprometida.

Tudo aquilo que é saudavelmente muito pouco português.

Aguardo os meus sessentas desta forma e espero ser capaz de conseguir.

Um grande bem-haja, Ciríaco e Isabel!

Tenho dito.

3 comentários:

Sandra Carvalho Rocha disse...

Oi jOÃO!!
Grande aventura, a tua... e da Ana!
Nós aqui no Brasil estamos a escolher o destino das férias de Carnaval!! Não queres passar por cá?
Uma beijoca grande!!

ana barros disse...

Johnny boy, por ora digo-te só q sorrio ao passar os olhos pelo q vais escrevendo.. :) E q de facto a Isabel (e o Ciríaco) são uns A-M-O-R-E-S (tu tb, não fiques triste.. :p) - acho q vou ter de vos pegar a todos pela mão e passear-vos imenso qd regressarem - definitivamente ou não..
And now I must hurry!!!!! Tenho de estar às 21h30 no TNSJ e tenho um milhão de coisas pr fazer (pr não variar) antes!!
|o facto de tornares -tão- públicos alguns "dotes" meus será eventualmente objecto de posterior comentário! :p|
Beijos mil!!
ENJOY!!

Anónimo disse...

Onde estas tu, la vai o Tiago.

Sabes com quem estive na quarta? Pois e... coitada, ainda sofre.

Beijos