terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Desert Sessions


Foi a primeira vez que adquiri um pack turístico.

Para além de ser pouco dado a packs (à excepção dos digipacks que transformam qualquer prateleira) nunca tinha recebido algum ordenado.

Na impossibilidade de cumprir a promessa que fiz a mim próprio com alguns dias de vida (de utilizar o meu primeiro ordenado para me fazer sócio do Futebol Clube do Porto) investi a maquia numa viagem às dunas.
O programa das festividades incluia, inicialmente, um trajecto de cerca de 30km até ao deserto.


Se pensarmos que o Dubai é deserto (assim como todos os Emirados Árabes Unidos e Península Arábica) não temos mais nada que...deserto.

Foi a melhor coisinha que fiz nestas três semanas.

As viagens, e mais que isso, as estadias mais (ou menos) prolongadas num local que não o "nosso", têm que envolver exclusividade.

E o deserto é exclusivo para um português. Não vale a pena estarmos com a sempre tão oportuna balela de dizer aos escandinavos que se passeiam em Lisboa ou no Porto que o Distrito de Beja é "tipo" deserto e que Portugal, apesar de pequenino, dispõe de uma panóplia infindável de microclimas, habitats e paisagens.
Neste caso, não resulta.


Nem para um minhoto Portugal pode ser deserto.
Portugal é tudo menos deserto e o Distrito de Beja, quanto muito, será desértico e seguramente desertificado.
O deserto não é desértico nem desertificado.
É deserto.

É deslumbrante pela austeridade, pela simplicidade, pela imensidão e muito, pela ausência de água.
Deixem-me ali sozinho , a 30km de uma das cidades com mais tecnologia no mundo. Pediria apenas uma esferográfica e um pequeno rádio.
Escreveria madrugadoramente As Minhas Memórias ao som de A Thousand Leaves do Nick Drake.

Eu e a Ana Maria (que fez o grato favor de me acompanhar e que vai ser alvo do próximo post) passeamos de jeep. Passear é o eufemismo que encontro já que o que aconteceu foi um verdadeiro show de roller cost dunar. Seguimos quase à risca o conselho de não ingerir qualquer alimento. E fez todo o sentido.

Para o fim, um banquete (já de noite) com os clichés de quem procura estes packs-oásis: comida condimentada à moda do Médio Oriente (já comi qualquer coisa muito semelhante na Cantina d´os Grelhados), pintura de mãos/pés para a menina, traje árabe para foto hi5, dança do ventre e, cereja em cima do bolo, a viagem de 2 minutos de dromedário. Escusado será dizer que fomos bombardeados com a informação que o animal-cargueiro seria pois, o camelo.

Pelo meio, o nosso cicerone indiano a quem, carinhosamente, apelidamos de Buba (alguém se lembra do hat trick ao Sporting deste já grande clássico do futebol português?) que, com o seu Inglês macarrónico nos ia explicando que todos os dias empackota turistas de todo o mundo e os leva a sair do Dubai.

Dizia-nos ele: "Is he really portuguese, Vashco da Ghama?". Ao mesmo tempo, assegurava-nos saber que Goa foi portuguesa mas que agora é uma promenade de globetrotters e de nostálgicos hippies em busca da juventude perdida.

É o tal problema dos packs: não há muito mais para além do resort.

Mas aqui não há nada a fazer.

Até conhecer a beduína que acampe comigo e me diga, à luz da lua, que quer conhecer Sobral de Monte Agraço.

O deserto é bonito.

3 comentários:

Belinha disse...

Fotos interessantes...Lindas...

jerónimo disse...

Bela crónica. Dubai, mas volta.

Anónimo disse...

O prazer q me dá ler-te e recordar. :)

Tu escreve, ma friend, tu escreve q a malta quer saber de ti!