segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pode pôr mais 300 gramas! Mas não corte fininho. Nunca corte fininho.

"O João?
Ainda está no Dubai!
Vai ao blogue..."
Após "longa travessia no deserto" (finalmente - e após tantos anos - encaixo esta expressão na sua plenitude) e um arrastado período de modorra física e emocional, volto a acreditar que tenho ainda algumas faculdades para soltar uma ou outra palavra neste "Do And Buy" que, já sabem, muito vos estima.

Estou a 3 dias de completar metade do meu casamento (que expira em Julho) com o Dubai, com os Emirados (todos) Unidos e com este blog.
Costuma dizer-se que após 3 meses, 3 anos ou 3 décadas (e por aí em diante) algo acontece - não se sabe é bem o quê.

Como eu sou de direito, compete a quem de direito, mostrar a quantas andam estes senhores, o que fazem, o que não deixam fazer, o que mostram e o que pretendem ver mostrado.

Uma presença profissional de apenas seis meses noutro continente nunca poderá apagar a sensação de turista atordoado, lazer, ócio e descoberta.
Portanto, sou muito mais semi-profissional do que profissional e amador, porque amo ser semi-profissional.

Apresento-vos um rol (ls Royce) de algumas situações que, se assim o entenderem, poderão aproveitar (de forma muito mais séria e profissional) para os vossos desenvolvimentos científicos e/ou académicos.

Serão case studies os:
A Limu ou a limousine

Quem nunca cobiçou a possibilidade de participar no saudoso "Parabéns", sendo largado à porta daquele teatro, na Limu do Herman José?

O Dubai não tem tempo para brincadeiras de praceta.
Por isso é que não há putos a jogar à bola no exterior, na impossibilidade de fazer balizas à medida do tamanho dos garotos.
É então um facto que, no Dubai, não há pracetas. Nem se lhes consegue explicar o seu significado.
Nem há praças porque ninguém faria uso delas. Há rotundas que têm espaço de praças.
São rotundas porque no Dubai ninguém anda a pé.
E ninguém gostaria de ver uma praça sem gente. Ou uma rotunda feita praça.

Há estradas, alamedas, avenidas, ruas-estradas e palmeiras em todas elas.
As estradas são normalmente auto-estradas, as alamedas são apalmeiradas, as avenidas um misto das duas e as ruas-estradas, muito bem pavimentadas.
Aqui estão dispostos os motivo para a existência da Limu.


A Limu em Portugal nunca pode funcionar: a não ser em Azeitão, na rampa-limu que o Herman mandou construir com a tecnologia e o know-how importados do Dubai.
Mas cabe na cabeça de alguém subir de Limu para a Sé Velha em Coimbra, descer às vielas da Ribeira no Porto ou perder-se na Alfama de Lisboa?

Tenham juizo!

O Camelo


Existem duas espécies de camelos: o dromedário ou camelo árabe, que tem uma só bossa, e o bactriano, mais comum na Ásia Central, que possui duas.
Portanto, o dromedário também é camelo.

Os camelos, por serem animais indulgentes, ultra-resistentes ao calor, com capacidades sobre-camelárias de armanezamento de água, serviram tradicionalmente para o transporte de populações nómadas beduínas, juntamente aos seus haveres.

Mais tarde, os menos nómadas e mais sociais, acabaram por se fixar em algumas das zonas costeiras do deserto, começando a criar povoados piscatórios, como é o caso do nosso Dubai.

O Dubai era uma aldeia há cerca de meio-século.
É inacreditável acreditar que alguém acreditou que, acreditem, o Dubai pudesse ser acreditado mundialmente como potência económica e financeira.
Petróleo.

Os camelos, já num plano lúdico, servem de instrumento às ásperas apostas nas corridas.
As TV´s e jornais locais não passam um dia sem referenciar as lesões dos players, as possibilidades, as características e claro, as próprias corridas.

Pusessem muitos jogadores da bola os olhos nestes camelos que correm a mais de 40 graus e teriamos aí jogadores com eles no sítio, para encarar o futuro dos nossos clubes de outra maneira.
É muito simples: treinas a 100, jogas a 1000!

O camelo serve ainda para o turista-de-praia tirar uma foto, após 15 tentativas goradas de subir para cima do belíssimo mamífero.
Completamente ensebado de suor, sorri, é fotografado e a foto, imediatamente digitalizada, está pronta a ser enviada para Bochum na Alemanha, onde o cunhado e a sobrinha mais nova residem.


As natas do Céu

"Dinner in the sky"


"É pa, onde é que se come bem e barato?"
Esqueçam.

Ou comes barato e mal (à excepção de locais que, por princípio, só divulgo a quem mostrar merecer) ou comes caro e benzinho.

Ou então comes no céu e logo me dizes.

Querem que me acredite que é espectacular elevar-me à altura de 7 andares (com cozinheiro incluido) para que tenha um repasto inesquecível...
E se o vinho acabar?
E se estiver com diarreias?
Patrocinam penico?
Fraldinha?

Não há nada como uma mesa como bancos corridos, pés bem assentes no chão e palitos para quem não quiser guardar a "febra" no dente, para a primeira refeição do dia seguinte.

Mas o que vale é que só a nata sobe ao céu.
E a nata não deve gostar de vinho de mesa corrida nem de fazer cócó.


A menina não cobiça o menino (ai dela!)


Apesar de assumir o tal papel de playground do mundo islâmico, o Dubai pauta-se inevitavelmente pela Sharia (Lei Islâmica).

O menino que pretende galar a menina, não o deve fazer neste parque.
Vai jogar berlindes para o lado oposto, ou então, espera pela noite e procura o melhor hotel, com o melhor piano-bar que alberga a melhor banda residente de covers dos Dire Straits do mundo, trocando os berlindes por notas de conto-de-rei que tudo vão pagar.

Incrível, incrível é perceber as meninas, completamente cobertas, algumas com máscaras de ferro devidamente ornamentadas, apenas com espaço para os olhos verem o que lhes é permitido.
Consta que, por baixo da túnica encomendada a estilista de renome, está a roupa adquirida num dos muitos Ovos Malls, perfeitamente urbana.
Os acessórios, esses, são do mais ocidental possível.

Quanto a eles, passeiam-se em JBR numa passerelle automóvel que engloba tudo o que possam imaginar (Bentleys, Lamborghinis, Porsches, Maseratis, Rolls Royces, Jaguars, Mustangs, Cadillacs, Hummers e os inevitáveis Ferraris - alguém se recorda dos Mercedes, Volvos, BMW´s ou Audis?).
Envergam sandálias, túnica branca sem um único vinco. Impecáveis.

Agora, esqueçam-se.
Ficam mais que sugestionados para uma prova de doçaria regional de fim-de-semana.
Doce de li(mouss)ine, baba de camelo, natas do céu e ovos malls.

Olhó Dubai!
É p´ró menino, é p ´rá menina...

(Um bem-haja muito grande aos simpatiquíssimos Miguel e Carolina que, de visita, me emprestaram as fotos para este post)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Eixo Oiã - Omã

A tempestade de areia.
Da mesma maneira que fica sempre bem dizer que se esteve em casa do Paulo Bragança, afiançando que ele anda sempre calçado na intimidade do seu lar, dizer que se esteve na "Arábia" e que foi óptimo apanhar com uma jarda de areia quente-molhada, é ainda melhor.
Registar fotograficamente este acontecimento metereológico para memória futura, é já um clássico para um não-nativo que deambule por estas bandas.
Como nós somos pouco clássicos e muito puritanos, não temos fotos desse poderio da Natureza, recomendando vivamente a presencialidade.

Devem levar, pois, sem aparelhos fotográficos, a maior quantidade de areia que suportarem nos canais respiratórios.
Guardem a areia num frasco, tal qual saiu do nariz e boca.
Quanto não valerão esses frasquinhos em Portugal?
Pois é, também estamos cá para os conselhos...
Mas prossiguemos.
Como também somos pessoas muito lúcidas e razoáveis, embarcámos, para fugir da tempestade emir, na nossa primeira internacionalização da intercontinentalização que estamos a viver.
Passámos a fronteira para Omã.

Meus caros, vale muito a pena.
E sim, finalmente pudemos perceber um pouco da realidade do deserto nesta viagem de 5 horas que, com a banda sonora indicada, se pode tornar um colossal hino à existência humana.

Do Golfo Pérsico rumamos às águas um pouco (mas muito pouco) menos calmas do Golfo de Omã.

Omã é Sultanato, que como o nome indica, é a terra e propriedade de Sua Majestade Qaboos bin Said Al Said, Sultão de Omã.
Esta viagem, ainda se torna mais especial, para o portuguesito emocionado que busca desesperadamente consolo d´alma por uma razão muito importante: em 1508 "dominámo-los".

Este aconchego emocional provocado pelas viagens do passado, acompanha-nos sempre naquelas que fazemos no presente.
E os portugueses arrepiam-se muitas vezes quando se apercebem do legado (e herança!) que, em muitos locais, é ainda mais respeitado do que entre-muros.

Olhem, eu arrepiei-me.

A Portuguese Fort - beginning of the XVI century - one of the most well conserved in the world

Pelo que me apercebi, Omã (Oh Man, para os que usam o Inglês) é muito mais genuino e rico em história palpável do que os Emirados Árabes Unidos, país recém-formado, apenas em 1971.

Os Emirados denotam também, uma muito mais forte presença colonial britânica, ainda hoje patente em muito do trato social vincadamente mercantilista.

Há menos para fazer.
Há mais para ver.

Musqat, a capital, é uma cidade encaixada numa das morfologias mais bizarras que alguma vez presenciei.
Um misto de ruga marciana com algum deserto lunar, em tons laranja-castanho.

As casas, algumas mais próximas das arribas, estão literalmente encrostadas e confundem-se com a cor da paisagem.

O mesmo se aplica às pequenas póvoas que iam despontando por entre a viagem feita de cabras e campos de futebol muito pelados onde os putos,com camisolas contra-feitas de grandes clubes europeus, vão jogando o seu futebol-descalço.



Era dia de jogo e soubemos que Omã saiu vitorioso do encontro para a qualificação do Mundial de 2010 a acontecer na África do Sul. 2-0 sobre a sua congénere do Senegal, em Musqat.

Para sublinhar esta genuinidade, lembrei-me de Oiã.
Primeiro porque rima com Omã.
Depois, porque é a porta de entrada na Bairrada, para quem vem de Norte e a de saída, no sentido oposto.
E o Leitão genuino, é o da Bairrada.

Neste momento assa-se o melhor leitão precisamente em Oiã (para além do Vidal, que assa muitíssimo bem, em Aguada de Cima).

A Mealhada, com o seu firework de restaurantes plantados em cima da antiga estrada nacional, é uma farsa que se paga, ainda por cima, muito caro.
É publicitada entusiasticamente por quem tem uma consulta no médico em Coimbra ou vai levar mensalmente a roupa lavada ao filho, que também estuda na Lusa Atenas e está em época de exames.
Isto tudo só porque, definitivamente, coloco o Dubai quase no mesmo plano da Mealhada.
Só não está lá exactamente, porque não tem o Carnaval.

E como bem sabem, o Carnaval faz falta.

Oiã é Omã.
Chapado.

Empreendo neste momento, o processo de mediação para a geminação daquelas quatro localidades (Oiã-Omã e Mealhada-Dubai), de acordo com o entendimento supra-citado.
Nas entrelinhas, a proposta da ecumenização do suíno.
Dar a perceber, por estas ruas, porque é que um Leitão bem assado é tudo menos profano para um cristão, que pode e deve poder adquiri-lo em mais que uma secção de talho por cidade.

Faltará apenas nomear Sua Majestade....................................................Leitão, Sultão de Oiã.

Perspectiva panorâmica de Oiã: ao anoitecer